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HELDER CARNEIRO: Entre Sorrisos e Histórias – A Experiência de Imersão em Angola

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Conhecer Angola era um sonho antigo. Terra dos meus antepassados pelo lado materno de minha avó, Maria Camila. Pelo menos é o que suponho, haja visto o apagamento cultural dos escravizados cruel e devastador. Não há registro. Não há como obter a cidadania como os italianos e libaneses gostam de estampar e propalar a quatro ventos. Não. Com os negros não. Portanto, minha ancestralidade fica no plano emocional/espiritual/genético/fenotípico.
E lá fomos, Magda e eu, descobrir Luanda e Benguela.

Um contato de Luanda, o ator/diretor/professor Silveiro Campos, o Corvo – que se tornou nosso orixá de guarda, foi me passado pela atriz e produtora de teatro de Ubá, Roberta Silva O resto foi só aventura e aprendizados múltiplos.

Nos sentimos em casa pela língua, culinária, sorrisos abertos e acolhimento impecável. Sabedores de nossa presença em Angola, algumas instituições culturais como a Associação de Produções Cênicas/UTC (Luanda); APROTEB através do produtor e diretor kelvin Memuana, do Diretor Provincial da Cultura, bem como o Diretor de Turismo de Benguela, abriram generosos e impactantes espaços de encontro com atores e dramaturgos locais, onde pude ministrar três oficinas de interpretação teatral e trocar experiências inimagináveis.

Dentro de escolas dos guetos (favelas), nos grandes mercados populares e em espaços públicos artísticos pude perceber, sem medo de errar, as afinidades de Brasil e Angola, irmanados que somos na herança genética; na história violenta da escravização; na influência contundente das igrejas cristãs católicas e evangélicas; na desigualdade social gritante e latente pelas ruas e, principalmente, na alegria das músicas, conversas e das danças.

De Luanda a Benguela, durante 10 horas de viagem em ônibus convencional, apreciamos a geografia do interior de Angola, com seus lugarejos, imensas extensões de terra não cultivadas, rios enormes e um povo em busca de sua liberdade cultural, igualdade política e fraternidade econômica.
Eu sabia que seria bom. Não sabia que seria ótimo.
Helder Carneiro
Bacharel em Artes Cênicas (diretor e ator); psicopedagogo; africanista e Facilitador em Programas de Desenvolvimento Humano.